Se perguntarem por mim, diga que eu vou bem.
Diga que tenho meus planos maciços e meus rumos premeditados.
Diga que estou focada e que qualquer tropeço servirá de
impulso para me ajudar a chegar ao meu destino.
Se perguntarem, diga que eu fui ali tratar de ser feliz, e
que já volto.
Que tenho levado calada, e que vozes agudas demais me enchem
o saco.
Que a família vai bem e que o cachorro, apesar de pentelho,
é uma companhia irrefutável.
Diga que a saudade às vezes aperta, mas que finjo que ela
não existe para que eu não seja perturbada no meu estado de nada.
Se perguntarem, conte sobre minha moda solitária e sobre o
meu tênis sujo.
Diga que vou muito bem quando a cerveja está suficientemente
gelada.
E que a carência é só uma premissa que consta entre o décimo
sétimo e o vigésimo primeiro dias do meu ciclo menstrual.
Se perguntarem por mim, diga que eu mudei, mas que se um dia
me encontrar por aí, ainda verá a mesma pessoa sob minha pálpebra caída.
Diga que eu engordei, mas que tudo bem, afinal de contas, eu
tenho estado muito ocupada cuidando de coisas mais importantes.
E que eu estou descuidada, mas que com um “blush” e um “rímel”
tudo volta a ser como se espera.
Se perguntarem por mim, pode dizer que estou solteira há 3
anos, e que me desculpo com a posteridade por estar tanto tempo satisfeita só
com a minha companhia.
Diga que sou egoísta e que não gosto de dividir a cama, os
travesseiros, o oxigênio do meu quarto e as filosofias inúteis que tenho
pensado.
Que lavo muito bem as mãos e que escovo os dentes, religiosamente,
5 vezes ao dia.
Diga que tenho medo de muita coisa, e que meu grande herói é
o porteiro, especialista em matar insetos horripilantes.
E que tenho uma planta artificial linda enfeitando minha
sala de estar.
Se perguntarem, conte das minhas noites infindáveis de
leituras saudosistas e pretensiosas sobre os amanhãs.
Que pretendo ser sempre muito melhor do que eu.
Que mantenho uma alimentação saudável na medida do possível,
porque vi na TV que comer fibras iria me fazer viver para sempre.
E que tenho evitado todo tipo de lembranças para não me
perturbar sobre quem eu era antes de ser um algoz para mim mesma.
Se perguntarem por mim, diga que morri.
Sarah Nadim de Lazari
Muito, muito joia seu texto!
ResponderExcluirVenho a calhar, tbm: https://www.youtube.com/watch?v=iUGCFkH2vQI
Bjao menina!
É...
ResponderExcluirEssas conversas a meia voz...
O gesto impetuoso com que vamos afastando o cabelo... e de noite, sob o brilho do pente é que aparece o olhar, debaixo do capacete...
O amor não é para sempre.
Mas a morte é.
A morte é para sempre.
Foda esse seu texto.
Muito Foda
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