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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Um Gole de Cicuta


É estranho não participar das marés modais e morais que vão e vêm para as pessoas. Ser diferente é pejorativo hoje em dia. Não referindo-se a cor, credo ou sexualidade, mas às concepções do que deveras é o certo nas condutas cotidianas.

Por que é que insistem em se martirizar por não ter um tênis de marca refinada? “Refinada”.

Por que usar uma blusa cuja estampa é um rótulo em cores gritantes que se autoafirmam usando as pessoas de vitrine?

Quanto custa a sua intimidade e o sua individualidade, se tudo pelo que você lutou até hoje virou um penduricalho compartilhado entre várias pessoas?

Ter um celular com utilidades mil tornou-se, de um dia pra outro, indispensável. O mundo pautado pelo digital é uma corrosão à autenticidade e à realidade.

Não mais deleita-se de vida. Conecta-se a um universo paralelo, a um modo automático de existência que dirige as personalidades pelo que elas postam em seus perfis sociais.

Viramos um livro de receitas de nós mesmos. Compartilhamos com o mundo aquilo que ouvimos, comemos, dançamos, para onde vamos, ou de onde viemos, como se procurássemos alguma aprovação. Alguém que vá nos degustar e recomendar-nos como uma boa pedida.

Temperamo-nos com títulos, marcas e padrões que, de tão uniformizados, nos torna insossos.

A necessidade de ter e de ser aquilo que todo mundo tem ou é, me dá medo.

Não é de hoje que se escuta dizer que há um veneno certo contra determinado tipo de praga.

Se veneno a personalidade, praga a futilidade.


Sarah Nadim de Lazari



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