Há um equívoco gutural nas primeiras
impressões.
É uma conclusão que arremata várias
outras situações, mas, em particular, uma sempre chama a atenção: já reparou na
reação que as pessoas têm diante de uma afirmação como “eu não quero ter filhos”
ou “não pretendo me casar”?
Os músculos faciais se rebelam
contra a tentativa de parecer normal diante de tais pressupostos, e o espírito
de avó do século XIX faz murchar a cara como quem chupa um limão.
A abstração espectadora permite a
ingestão desse determinismo moral que está encravada numa mediocracia que
decidiu que o código de conduta do bom cidadão, da boa moça e mulher digna é
casar-se, ter filhos sem saber para quê tê-los; sem querer sabê-los.
Pasme, você, que com 13 anos de
idade já tinha um enxoval completo todo bordado em “ponto cruz”: as pessoas
amam. Ainda que não tenham filhos nem oficializem uma união dessas que os torna
reféns não de um laço espiritual, mas jurídico, elas amam sim!
Não é preciso ser capaz de colocar
outras vidas no mundo para se ter sentimentos tão belos quanto os “shakespeareanos”.
Muito menos são precisas duas assinaturas num papel condecorado de demagogias ilusórias
que ultrajam de vida toda uma lua de mel em Paris.
Conviver com o fato de que opta-se
pela liberdade até por cima do cadáver da tradição é difícil até pra quem usa
calça “jeans” e tênis da moda. Fácil é aceitar o fato de que “vampiros se
apaixonam por seres humanos e de que lobos são quentes e valentes.”
Condenar a opção por uma união (ou
não) livre de toda pressão tradicional ou a abdicação da responsabilidade de
ter um filho ortogado pelo egoísmo ambiental que é a perpetuação da espécie, é
medo. Medo de ser julgado pelos mesmos parâmetros pelos quais você julga. Medo
de provar do amargo do próprio veneno.
Pasme, você, que tem 3 filhos, 1 hérnia
e pouco tempo: finais felizes precedem frustrações.
Pasme, você, que com 20 anos de
casado assinou uma vez só o “certificado de conclusão de curso”: amar, se
aprende amando.
Sarah Nadim de Lazari
#2012