Sabe do que eu tenho medo? De
covardia. Morro de medo de quando as pessoas fogem dos riscos, das dificuldades
e optam pelo caminho mais curto. Medo porque é por aí que moram as maiores monstruosidades
com as quais podemos nos deparar no futuro.
Ali está o Arrependimento. Bicho
peçonhento. Tem origem na tentação, na simplificação das coisas, na esquiva dos
males, na fuga dos problemas, e na bendita covardia. É que quando surge uma
oportunidade de burlar as intempéries do acaso, ainda que através de meios nada
éticos, Fulano vai lá e pronto: “supera” o problema. Acontece que problema que
é problema, não brinca de esconde-esconde com o destino, e invariavelmente, na
sua sagacidade feroz de achar o caminho de volta pra casa, retoma seu interlocutor
com um afinco de saudade e vingança por ter sido enganado, e vem correndo pela
areia da praia, cabelos ao vento e vestido de branco . E aí, “pimba”: a
lástima; o choro; um nhenhenhém digno de um dramalhão mexicano; uma coita que
só por Deus. O danado se arrepende.
No caminho mais curto mora a Injustiça
também. Não se percebe que para driblar qualquer pedra no meio do caminho mais
longo, a gente toma posse do caminho alheio. Invade-se, quase sempre, um pedaço
de terra carpido, adubado quiçá e desocupado de outrem. Aí, se você é mais
forte, tem um sobrenome bonito, ou uma conta gorda no banco, tudo bem, mas se
for um Ninguém, ladrão de galinha, ou Zé Ruela, mirrado, vai se danar. A vida
sempre cobra de quem não tem com o que pagar.
A covardia finge que manipula o Tempo
também. O medo de envelhecer ou de morrer faz correr atrás de uma aparência
jovial, ou de uma pseudo-saúde comprada, manipulada na farmácia da esquina, ou
adquirida em um canal de televendas.
Quando for covarde o suficiente pra temer o espelho, quando as rugas
soarem como sinais de um tempo que passou gratuitamente, ou quando a fantasia
de possuir o mesmo corpo quando em tempos de nudez manifestar-se, não tema:
orgulhe-se. A indiferença diante da experiência é medo de não ter usufruído de
todas as possibilidades.
Morro de medo da Inveja, que é a
covardia que o Cicrano tem de elogiar. Custa alegrar-se com a roupa bonita da
colega? Qual o problema com o carro novo do vizinho? Vai mesmo procurar todos
os dias um novo defeito para o patrão? A inveja que te assombra e corrói por
dentro é um câncer na sua auto-estima. Um tumor de três quilos, que lhe
aproxima sempre mais do fundo do poço, da depressão, do ópio que talvez seja a
solidão.
O Arrependimento, a Injustiça, o
Tempo e a Inveja dão medo. São ou já foram medo. Carregam na essência o pé
atrás, o oportunismo, uma razão angustiada e cansada de pensar, a privação de
prazeres por um juros a ser retirado sabe-se lá em qual vida. Se antes a fé,
agora, a certeza do fim. Se antes um futuro, agora, um passado. Se antes o medo, agora, a dúvida.
Sarah Nadim de Lazari
#2010
Gostaria que metade, só metade das pessoas entendesse isso. Bjão Sarah!
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