John Lennon sonhou com a paz mundial;
Martin Luther King, com a igualdade entre negros e brancos; Hitler, com a
pureza da raça ariana; Cazuza, com uma ideologia; uma bailarina gorda sonha com
mil saltos mortais; minha mãe sonha com um netinho e meu pai com meu sucesso
profissional; até Baleia sonhava com um mundo cheio de preás. Ferreira Gullar
acertou: “o sonho é popular”.
À partir do momento em que se passa a
recorrer o porquê de se sonhar, e deixa-se de lado as considerações feitas diante
das coisas com as quais se sonha, sobressalta-se: por que sonhamos?
Os mais otimistas sugerem que sonhar é
um estímulo, uma incitação à realização de tal sonho. Os pessimistas fazem do
sonho um aval para evitar esforços, para distar cada vez mais do potencial de realização
de qualquer ideal. O saudosista faz do passado um sonho antigo, uma hipótese
limitada pelo tempo. O violeiro que toca em frente sonha porque nunca quer
parar de caminhar. Os vestibulandos usam do sonho porque é o trunfo mais sustentável
para a persistência.
O onírico não é ilícito, mas corrompe
tanto quanto a poesia. Ilude a gregos e troianos, porque é uma chance. Ser
possibilidade não exclui do roteiro uma das facetas da vida que pode ser o
fracasso, mas alimenta o vício da fé. Fé naquilo que é alcançável, mas esquiva
do medo de que seja impossível.
Vertentes do bem ou do mal, da
riqueza ou da simplicidade, do individualismo ou do bem comum, do dogmatismo ou
do cepticismo, tanto faz. Sonhos? Julgue-os como possíveis, saboreie-os como
impossíveis, mas acorde assim que a realidade lhe apontar um tiro “à queima
roupa”; desperte quando a utopia do possível engolir tal realidade; tenha
sonhos capazes de sacudir o mundo.
“Sonho que se sonha só, é só um sonho
que se sonha só”. Raul Seixas de novo? Use-o como subterfúgio do individual
nocivo, afinal, é por isso que o sonho é popular, não?
Sarah Nadim de Lazari
#2011
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