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terça-feira, 7 de agosto de 2012

A Utopia do Possível


       John Lennon sonhou com a paz mundial; Martin Luther King, com a igualdade entre negros e brancos; Hitler, com a pureza da raça ariana; Cazuza, com uma ideologia; uma bailarina gorda sonha com mil saltos mortais; minha mãe sonha com um netinho e meu pai com meu sucesso profissional; até Baleia sonhava com um mundo cheio de preás. Ferreira Gullar acertou: “o sonho é popular”.
À partir do momento em que se passa a recorrer o porquê de se sonhar, e deixa-se de lado as considerações feitas diante das coisas com as quais se sonha, sobressalta-se: por que sonhamos?
Os mais otimistas sugerem que sonhar é um estímulo, uma incitação à realização de tal sonho. Os pessimistas fazem do sonho um aval para evitar esforços, para distar cada vez mais do potencial de realização de qualquer ideal. O saudosista faz do passado um sonho antigo, uma hipótese limitada pelo tempo. O violeiro que toca em frente sonha porque nunca quer parar de caminhar. Os vestibulandos usam do sonho porque é o trunfo mais sustentável para a persistência.
O onírico não é ilícito, mas corrompe tanto quanto a poesia. Ilude a gregos e troianos, porque é uma chance. Ser possibilidade não exclui do roteiro uma das facetas da vida que pode ser o fracasso, mas alimenta o vício da fé. Fé naquilo que é alcançável, mas esquiva do medo de que seja impossível.
Vertentes do bem ou do mal, da riqueza ou da simplicidade, do individualismo ou do bem comum, do dogmatismo ou do cepticismo, tanto faz. Sonhos? Julgue-os como possíveis, saboreie-os como impossíveis, mas acorde assim que a realidade lhe apontar um tiro “à queima roupa”; desperte quando a utopia do possível engolir tal realidade; tenha sonhos capazes de sacudir o mundo. 
“Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só”. Raul Seixas de novo? Use-o como subterfúgio do individual nocivo, afinal, é por isso que o sonho é popular, não?
Sarah Nadim de Lazari
#2011

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