Em algum
desses prédios no horizonte, há alguém mantendo a luz do apartamento apagada.
Na penumbra causada pela pouca luz que entra da rua, a pessoa vislumbra os
móveis dos quais desvia enquanto caminha, pensando.
Reflete
sobre seus medos e, na maior parte do tempo, procura entender o que diabos a
levou para aquele lugar. Lembra-se, através dos aromas que adentram a janela, de
particularidades de seu passado nas quais há muito não pensava. E agoniza.
A dúvida
sobre os planos que, eloquentemente, afirmou para si mesma serem os certos,
acompanha o fracasso do que outrora lhe foram certezas.
É difícil
demais chegar à conclusão de que tudo o que fez até então não levou a nada. Não
foi construtivo. Degradou seu tempo, sua virilidade, e suas ânsias juvenis que
impulsionavam as suas perspectivas.
Em algum
desses prédios no horizonte, há alguém revendo fotos antigas, e lendo mensagens
esquecidas. Na solidão, que outrora lhe envolvia como acalanto, sentia-se
vazia. Precisava assistir ali, digitalizadas, as coisas que havia vivido, só
pra ver se tinham sido verdade; se tinham acontecido com a mesma pessoa que
então coleciona o silêncio das memórias.
Enxerga no
céu as mesmas poucas estrelas que habitam seus sentimentos verdadeiros, e as
nomeia. Confessa sua angústia na esperança de que o manto negro que os separa
não a poupe do brilho, nem de um possível consolo que até pode ser que lhe
venha de tão longe.
Em algum
desses prédios no horizonte, há alguém que tenta, na escuridão, fazer-se pó, para
dele tentar renascer. Há, no abrigo nostálgico do passado, a tentativa eterna
de viver um futuro que lhe permita acender as luzes e fazer parte de um céu
cuja estrela maior é a esperança.
Sarah Nadim de Lazari