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sábado, 1 de junho de 2013

O Silêncio das Memórias

          Em algum desses prédios no horizonte, há alguém mantendo a luz do apartamento apagada. Na penumbra causada pela pouca luz que entra da rua, a pessoa vislumbra os móveis dos quais desvia enquanto caminha, pensando.

         Reflete sobre seus medos e, na maior parte do tempo, procura entender o que diabos a levou para aquele lugar. Lembra-se, através dos aromas que adentram a janela, de particularidades de seu passado nas quais há muito não pensava. E agoniza.

          A dúvida sobre os planos que, eloquentemente, afirmou para si mesma serem os certos, acompanha o fracasso do que outrora lhe foram certezas.

          É difícil demais chegar à conclusão de que tudo o que fez até então não levou a nada. Não foi construtivo. Degradou seu tempo, sua virilidade, e suas ânsias juvenis que impulsionavam as suas perspectivas.

        Em algum desses prédios no horizonte, há alguém revendo fotos antigas, e lendo mensagens esquecidas. Na solidão, que outrora lhe envolvia como acalanto, sentia-se vazia. Precisava assistir ali, digitalizadas, as coisas que havia vivido, só pra ver se tinham sido verdade; se tinham acontecido com a mesma pessoa que então coleciona o silêncio das memórias.

      Enxerga no céu as mesmas poucas estrelas que habitam seus sentimentos verdadeiros, e as nomeia. Confessa sua angústia na esperança de que o manto negro que os separa não a poupe do brilho, nem de um possível consolo que até pode ser que lhe venha de tão longe.

          Sente saudades, mas não sabe do que; ou de quem. Vai fundo na introspecção pra ver se ainda sabe mesmo sentir; o por quem sentir. Carrega o peso de ter se transformado em um nada imenso para si.


        Em algum desses prédios no horizonte, há alguém que tenta, na escuridão, fazer-se pó, para dele tentar renascer. Há, no abrigo nostálgico do passado, a tentativa eterna de viver um futuro que lhe permita acender as luzes e fazer parte de um céu cuja estrela maior é a esperança.


Sarah Nadim de Lazari