A morte, essa ilusionista que decide até quando se deve
viver, brinca de gangorra nos parques do destino.
Ora leva vidas de repente, ora as prolonga sob um curso que
julgamos natural. Egoístas que somos, preferimos acreditar no tempo de sobra,
num amanhã que trará horas o suficiente para que as coisas que sempre deixamos
pra depois sejam feitas.
A morte, essa bailarina que desliza sobre os palcos da nossa
prepotência, é o martelo do juiz.
Pontua o acaso com rigidez, e deixa bem claro pra quem
quiser assistir que devemos subserviência às suas ordens. Ela existe, e,
autoritária que é, cumpre suas funções sem piedade; ignorando os que ficam e os
que leva.
Sendo a única certeza com a qual se convive o tempo todo, habilidosa em surpreender, a morte faz questão de evitar a previsibilidade e de ser, sempre que pode, o mais cruel possível.
Arranca do berço, do colo, do ombro de um amigo, do fundo da
alma de um amor, uma vida. Vida da qual tem inveja.
A morte é invejosa.
Ela suga a juventude na tentativa de sê-la em sua virilidade
e disposição diante do futuro.
Ela suga a velhice na esperança de consumir a sabedoria e a
maturidade daqueles que traga.
Mas, acima de tudo, a morte é uma lição.
Sem querer, ela ensina o amor, quando leva alguém cuja
ausência fará falta pra sempre. Ensina sobre a brevidade da vida, quando, num
golpe brutal de sua foice enferrujada, encerra os dias de quem ainda é broto –
germinal. Ensina a fé, quando deixa para aqueles que ficam submetidos à
ausência de alguém querido a esperança de que, em algum lugar, há de se estar
melhor do que aqui.
A morte, meus caros, é continuidade.
Sarah Nadim de Lazari