Existir
cansa. Vestir-se, caminhar, cutucar o nariz ou tomar um café. Corriqueiro
demais pra quem faz da simplicidade um fardo. Cansa ter que se moldar aos
determinismos que nos muda constantemente.
A
dúvida cansa. Desde que indagar passou de busca por embasamentos científicos a
teimosia de gente chata, saber tornou-se um fardo pesado demais. A elegância
das explicações não garante sua eficácia. A necessidade de uma explicação, não
garante sua existência.
A
saudade cansa. Um fardo pelo qual não se opta. Saudade é. Carrega, travestido
de vontade/desdém, tristeza/felicidade, amor/ódio, necessidades inconclusas. É
a sangria do poeta e o gozo do leitor. A amargura da viúva e o caos do
historiador. Saudade dói.
A
imaturidade cansa. Crescer nem sempre denota sabedoria. Recorre-se à
infantilidade por não se ter acesso a uma fonte da juventude. Não! Amadurecer é
sadio. As histórias de outrora são o revés do saudosismo. O tempo gentilmente
afaga a memória. Não à toa. O acúmulo de experiência transborda para que
polinize novos leigos.
A
passividade cansa. Quando o assento toma a forma, a urgência torna-se
insuficiente. Sem a liberdade das horas vagas, tudo bem, a fé seria só uma
especulação, mas, estar alheio a tudo e a si mesmo é corrosivo. Decompõe a
sociedade e o dom de raciocinar. A passividade é uma revolução embriagada.
O
silêncio cansa. É um palhaço morto. Entre o choro e o riso proporcionado, há um
acaso e só. O sopro do vento ou o uivar de um lobo são especulações razoáveis
para o medo. O silêncio fala alto quando é necessário; é ensurdecedor quando
não.
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